Olá. Bom, quando o assunto é música japonesa, de alguma forma, sempre vai para o famigerado city pop, ainda mais atualmente em que houve a recente popularização ocidental da Mariya Takeuchi, devido à música Plastic Love. Também temos as famosas bandas que já fizeram várias aberturas/encerramentos de anime, como Asian Kung Fu Generation, Granrodeo etc., que se tornaram bem famosas na comunidade, sendo no geral classificadas como j-rock. Meu objetivo não é dizer que esse tipo de música é ruim, claro, é algo subjetivo, não creio que seja possível inferir tal valor objetivo na arte em geral. Dito isso, gostaria de apresentar um estilo musical com certa presença no cenário japonês e com uma "pegada" bem diferente dos supracitados, que, em minha opinião, já estão meio saturados em termos de exaltação e recomendação. Então, bora falar de zeuhl.


Definição de Zeuhl.


Zeuhl é um gênero que teve nascimento na França com a banda Magma. Ela surgiu no final dos anos 60 e quis embarcar na onda do rock progressivo, que estava começando a ter força após alguns álbuns da época, como Days of Future Passed (1967), do The Moody Blues, e Sgt. Pepper's Lonely Heart Club Band (1967), dos Beatles, já dando indícios de algo que iria além do rock psicodélico. Porém, apenas em 1969, quando houve o lançamento do álbum In the Court of the Crimson King, do King Crimson, o gênero se consolidou em sua forma e iniciou, de fato, o movimento do rock progressivo (mas todo mundo sabe que o gênero só existe como uma referência a JoJo, claro).

Suas características incluem: música erudita, jazz fusion/jazz rock, modernismo, ampla utilização de tecnologia (teclado, sintetizador, mellotron etc.) e a influência do rock psicodélico, que seria seu "antecessor". Junto disso, possui apreço por composições complexas, tanto na melodia quanto na letra, e esbanja um virtuosismo instrumental.


Naquele cenário, Christian Vander, baterista e líder do Magma, mudou um pouco o gênero em seu tom, deixando-o mais "pesado" musicalmente, aproximando-se até do estilo heavy metal e tirando um pouco da psicodelia, tornando o elemento de jazz bem mais influente, principalmente devido ao baixo mais frenético e composições bem livres.

Como se não fosse o bastante, liricamente ele teve uma ideia bem louca: criar um idioma para cantar. Esse idioma é chamado de Kobaïan, que seria uma língua alienígena do planeta Kobaïa, o qual tem sua história contada pela discografia da banda. Porém, ninguém sabe ao certo o que se diz nas músicas, já que não há tradução, "k", então acaba soando como se estivessem em uma espécie de culto, entoando ritos estranhos, mas é muito bom de se ouvir. Essa característica linguística acabou sendo também levada a outras bandas, que usam o vocal como uma forma de pura expressão, sem se apegar a letras e coisas do tipo. Em suma, o zeuhl é um subgênero do rock progressivo.

Aliás, zeuhl é uma palavra em Kobaïan, tornou-se o nome do estilo pois Christian Vander chamava a música do Magma dessa forma. Significa algo como "celestial".


Música do Magma.


Bandas e Artistas Japoneses de Zeuhl.

Ruins.


Provavelmente a primeira banda da cena japonesa de zeuhl, Ruins foi formada pelo baterista e vocalista Yoshida Tatsuya em 1985. Consistia em uma dupla com ele junto de alguém no baixo, havendo quatro diferentes durante a vida da banda, o que influenciava no estilo e variedade de seus álbuns. Possui um som bem experimental e até um pouco "rústico" com o vocalista, que também embarca na onda do Magma de cantar em um idioma desconhecido. É algo que realmente parece louco com suas alterações de voz, chegando até a fazer gutural e vários trechos em que ele grita. A banda tem um som bem pesado e acelerado, típico do zeuhl, e é de fato impressionante que seja formada por apenas dois membros, pois fazem um grande "barulho". Algo interessante que eles fizeram é o "Progressive Rock Medley" (Medley é junção de músicas, até os Beatles fizeram um em Abbey Road), no qual eles tocaram trechos de vários grandes clássicos do rock progressivo em apenas três minutos. São visíveis músicas de bandas como: Yes, Genesis, Emerson, Lake & Palmer, entre outros, totalizando 39 músicas no "mix".

Aos interessados, podem conferir a banda no YouTube ou, como eu fiz, pelo Spotify, apesar de lá estarem presentes mais compilados de músicas do que álbuns.


Música do Ruins.


Koenjihyakkei.


Das bandas que ouvi, Koenjihyakkei foi a que mais gostei e a que achei mais parecida com a sonoridade do Magma. Ironicamente, ela também foi fundada pelo baterista e vocalista Yoshida Tatsuya, em 1991. Atualmente é composta pelo Tatsuya, Sakamoto Kengo (baixo e vocal), Yabuki Taku (teclado), Yamamoto Kyoko (vocal), Komori Keiko (instrumentos de sopro e vocal) e Koganemaru Kei (guitarra e vocal). Koenjihyakkei se diferencia bastante de Ruins com seus vários vocalistas, inclusive mulheres, que trazem o estilo impactante do Magma mais à tona. É também mais "organizada" e menos disforme, não sendo tão experimental e pesada, com isso, possuindo um som mais reconhecível. Mesmo assim, é bem frenética em suas composições, trazendo a erudição do teclado de uma forma bem presente, junto ainda do típico baixo e da bateria que se espera de um grupo zeuhl. Até o momento, a banda já lançou 5 álbuns de estúdio, o últimos deles em 2018, chamado Dhorimviskha, mostrando que a banda ainda se encontra bem ativa (e fazendo um bom som, pois o álbum é excelente). Meu favorito, que foi até minha porta de entrada à banda e ao zeuhl japonês, é o Anger Shisppa, que, para mim, só fica atrás do Mekanik Destruktiw Komandoh (Magma), do que já ouvi do gênero. Ah, também dá para ouvir pelo Spotify e YouTube.


Música do Koenjihyakkei.


Ryoko Ono.


Nascida em 1975, Ryoko Ono (favor não confundir com a namorada do Lennon, sujeito à agressão) é uma grande saxofonista com uma diversa carreira solo, possuindo um bom nome dentro do cenário avant-garde japonês, aproximando-se bastante do zeuhl, devido a seu experimentalismo, trazendo sua "vibe" frenética e jazzística com seu saxofone, lembrando bastante o free jazz. Mesmo não utilizando de vocais, seu "sax" se encarrega muito bem dessa parte, trazendo a atmosfera expressiva e louca do zeuhl. Lançou seu primeiro álbum solo em 2012, chamado Undine, sendo praticamente um tributo a um dos maiores clássicos do rock progressivo: Tarkus, do Emerson, Lake & Palmer. Nesse álbum participou também o já citado Yoshida Tatsuya com sua bateria.

Ela ainda se encontra na ativa, inclusive teve álbuns recentes lançados, como Loop Heaven (2019) e Blood Moon (2020). Infelizmente há bem pouca coisa dela no YouTube e Spotify, recomendo o Bandcamp.


Música da Ryoko.


Encerramento.


Bom, o blog fica por aqui. Tentem ouvir as bandas recomendadas e, se gostarem, pesquisem por mais, sempre é bom conhecer coisa nova. 

Até mais e ouçam King Gizzard & the Lizard Wizard.





Autor: Allan Oliveira;
Contato: Twitter.